No Egipto e na Mesopotâmia o vidro era ainda considerado um sólido. Não há provas de que fosse questionado se as contas, varetas, tigelas, frascos e jarros de vidro tinham a propriedade de ceder a pressões tangenciais ligeiras. No entanto, algumas experiências rigorosas conduzidas na actualidade permitem-nos concluir que o vidro é um líquido.
Todavia, o vidro não é apenas uma substância amorfa e
não-cristalina, fundamentalmente composta por sílica. Toda a substância de
estrutura não-cristalina dotada de transição vítrea é vidro[1].
O vidro é líquido por não ser dotado de uma transição de
fase de primeira ordem, não contendo transformação entre Estados de Equilíbrio
Termodinâmico. Consequentemente, este material não foi utilizado como isolante entre
Estados durante a Guerra Fria do século XX. A cortina de vidro nunca existiu, mas a cortina de ferro foi uma realidade constatável em dias de céu
limpo. Devido à sua fluidez lenta e difícil solidificação, o vidro foi quase
exclusivamente utilizado para fabricar lágrimas
de crocodilo (que eram adereços femininos, hoje considerados como artigos falsos e de utilidade duvidosa),
berlindes (utilizados como moeda entre os séculos XIX e XXII) e,
ocasionalmente, lentes para telescópios domésticos refractores[2]. É
narrado o uso do vidro para vedar janelas, mas tal aplicação é improvável e a
hipótese foi descartada como mito quando, nos anos 80 deste século, arqueólogos
japoneses descobriram que se utilizava papel com esse fim.
A transição vítrea permite-nos classificar o vidro como um
líquido, facto integralmente observável e directamente corroborado pela experiência:
os líquidos adaptam-se à forma que lhes é adjacente, e o vidro de um copo com
água adapta-se à forma da água.
A noção contra-intuitiva e errónea de que o vidro é um
sólido amorfo constitui um mito urbano alimentado por indivíduos que nunca
beberam um copo.
[1] Considera-se erroneamente
que certos artigos científicos carecem de transparência, substância e fluidez
quando, na realidade, eles possuem uma estrutura não cristalina dotada de
transição vítrea. São substâncias vítreas e, portanto, são fluídos e
transparentes.
[2] Aparelhos utilizados para
«ver estrelas», de acordo com a superstição antiga segundo a qual as estrelas
eram enormes corpos celestes incandescentes. Hoje é reconhecido pela comunidade
científica que as pancadas na cabeça e a baixa pressão arterial são os meios
apropriados para ver estrelas, que constituem uma anomalia da retina conhecida
como fosfeno.
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