quarta-feira, 8 de maio de 2013

Lucidia Hallucinata


A Lucidia hallucinata (Linn.), também conhecida como Prímula do Diabo, é uma planta em vias de extinção nativa das ilhas de Aiputo, no Pacífico Sul. Pertencente à família das Primuláceas, esta planta cresce em solos perturbados pelas toxinas patogénicas da bactéria alienococcus lucidus. A floração desta espécie é frequentemente confundida com a floração da Lucidia vulgaris, mas demonstra, em todos os seus aspectos distintivos, uma marcada aversão a espaços confinados, pelo que nunca pode ser mantida em vasos ou estufas. A parte superior das pétalas apresenta comummente um pigmento sanguíneo devido às alergias contraídas no contacto com outras plantas. Todavia, a característica mais distintiva desta espécie é a sua tendência para enlouquecer e metamorfosear-se em borboleta não-euclidiana. Este lepidóptero descreve aparições erráticas, aparecendo e desaparecendo no espaço deformado pelo cruzamento de geometrias paradoxais.
Antes de enlouquecer, a Prímula do Diabo apresenta sinais de uma lucidez inconfundível: as suas pétalas ficam transparentes e brilham no escuro. Ao anoitecer, a hallucinata produz um solilóquio que encerra toda a sua obra filosófica e literária. No trânsito para a demência, toda a planta – da raiz até ao estigma – sonha e murmura, deixando no ar cintilações perigosas que se desprendem da superfície das pétalas e atingem os 1500 metros de altitude. Quando, finalmente, a planta se transforma em lepidóptero, perde a raiz e ganha asas; oscila entre espaços planos e curvos e experimenta, na sua vida breve, todas as contradições alucinadas da flor da existência. O génio da hallucinata evolui quase invariavelmente para a demência prematura. Por isso, a sabedoria popular faz constar que esta planta não é uma criatura de Deus, mas sim a Prímula do Diabo.

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