A Lucidia hallucinata (Linn.), também conhecida como Prímula
do Diabo, é uma planta em vias de extinção nativa das ilhas de
Aiputo, no Pacífico Sul. Pertencente à família das Primuláceas,
esta planta cresce em solos perturbados pelas toxinas patogénicas da
bactéria alienococcus lucidus. A floração desta espécie é
frequentemente confundida com a floração da Lucidia vulgaris, mas
demonstra, em todos os seus aspectos distintivos, uma marcada aversão
a espaços confinados, pelo que nunca pode ser mantida em vasos ou
estufas. A parte superior das pétalas apresenta comummente um
pigmento sanguíneo devido às alergias contraídas no contacto com
outras plantas. Todavia, a característica mais distintiva desta
espécie é a sua tendência para enlouquecer e metamorfosear-se em
borboleta não-euclidiana. Este lepidóptero descreve aparições
erráticas, aparecendo e desaparecendo no espaço deformado pelo
cruzamento de geometrias paradoxais.
Antes de enlouquecer, a Prímula do Diabo apresenta sinais de uma
lucidez inconfundível: as suas pétalas ficam transparentes e
brilham no escuro. Ao anoitecer, a hallucinata produz um
solilóquio que encerra toda a sua obra filosófica e literária. No
trânsito para a demência, toda a planta – da raiz até ao estigma
– sonha e murmura, deixando no ar cintilações perigosas que se
desprendem da superfície das pétalas e atingem os 1500 metros de
altitude. Quando, finalmente, a planta se transforma em lepidóptero,
perde a raiz e ganha asas; oscila entre espaços planos e curvos e
experimenta, na sua vida breve, todas as contradições alucinadas da
flor da existência. O génio da hallucinata evolui quase
invariavelmente para a demência prematura. Por isso, a sabedoria
popular faz constar que esta planta não é uma criatura de Deus, mas
sim a Prímula do Diabo.
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