Quem vai pela Rua de
Entrecampos em direcção à Ponte da Arrábida e vê, do lado
direito, os edifícios da Faculdade de Ciências, repara que os
globos de iluminação exterior da faculdade deitam uma luz verde e
mortiça, que não ilumina sequer a relva, quanto mais as cabeças
dos estudantes. Isto começou com uma teima do avaríssimo presidente
de um departamento da faculdade. O distinto senhor decidiu que os
gastos supérfluos em papel são para tempos de epidemias e
esquecimento, e que os gastos de luz são para tempos de escuridão.
Ele só não ainda não percebeu que vivemos tempos de esquecimento,
epidemias e escuridão, apesar de uns professores de História estarem fartos de lhe explicar isto. A melhor prova da nova
Idade das Trevas é exactamente esta necessidade de esperar por uma
Idade das Trevas para aprovar despesas em energia e papel. O senhor
doutor decidiu pedir uma alternativa aos colegas de Biologia, para
que lhe apresentassem uma "solução sustentável",
portanto uma "alternativa biológica" a esta situação
crítica de escassez de recursos. Então encheram os globos dos
ajardinados com luz de pirilampos (usaram cerca de seis mil destes
bichinhos). As folhas de rascunho dos exames passaram a ser tiradas
dos carvalhos e castanheiros dos jardins da faculdade, e nas casas de
banho decidiram pôr folhas de plátano. Poucos conhecem a razão
pela qual o Departamento de Biologia é o que se encontra mais
ricamente iluminado. É que, com a exportação de folhas e
pirilampos, tem recursos para mais dois anos de luz, papel e investigação. Só é
pena que os fundos para Biologia estejam agora a favorecer imenso a
pesquisa em bioluminescência e modificação genética da
pigmentação, recorte e textura do limbo de folhas de árvores.
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