sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

escassez de recursos


Quem vai pela Rua de Entrecampos em direcção à Ponte da Arrábida e vê, do lado direito, os edifícios da Faculdade de Ciências, repara que os globos de iluminação exterior da faculdade deitam uma luz verde e mortiça, que não ilumina sequer a relva, quanto mais as cabeças dos estudantes. Isto começou com uma teima do avaríssimo presidente de um departamento da faculdade. O distinto senhor decidiu que os gastos supérfluos em papel são para tempos de epidemias e esquecimento, e que os gastos de luz são para tempos de escuridão. Ele só não ainda não percebeu que vivemos tempos de esquecimento, epidemias e escuridão, apesar de uns professores de História estarem fartos de lhe explicar isto. A melhor prova da nova Idade das Trevas é exactamente esta necessidade de esperar por uma Idade das Trevas para aprovar despesas em energia e papel. O senhor doutor decidiu pedir uma alternativa aos colegas de Biologia, para que lhe apresentassem uma "solução sustentável", portanto uma "alternativa biológica" a esta situação crítica de escassez de recursos. Então encheram os globos dos ajardinados com luz de pirilampos (usaram cerca de seis mil destes bichinhos). As folhas de rascunho dos exames passaram a ser tiradas dos carvalhos e castanheiros dos jardins da faculdade, e nas casas de banho decidiram pôr folhas de plátano. Poucos conhecem a razão pela qual o Departamento de Biologia é o que se encontra mais ricamente iluminado. É que, com a exportação de folhas e pirilampos, tem recursos para mais dois anos de luz, papel e investigação. Só é pena que os fundos para Biologia estejam agora a favorecer imenso a pesquisa em bioluminescência e modificação genética da pigmentação, recorte e textura do limbo de folhas de árvores.

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